Maior denominação evangélica do país, a Assembleia de Deus realiza hoje em Brasília uma megaeleição para escolher a cúpula de sua principal entidade.
Participarão aproximadamente 24 mil dos mais de 50 mil pastores da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil, a mais tradicional da igreja --fundada em Belém em 1910.
É o maior pleito de sua história, antecedido por três dias de plenárias e cultos lotados realizados num centro de eventos da capital.
Foram necessárias 20 mil cadeiras para comportar o oceano de homens vestidos de terno com suas indefectíveis bíblias. Diante do esgotado sistema hoteleiro de Brasília, boa parte deles acampou em torno do local.
Andre Borges - 8.abr.2013/Folhapress | ||
Pastores participam do primeiro dia do Congresso da Assembleia de Deus em pavilhão de exposições, em Brasília |
Entre os pastores está Marco Feliciano (PSC-SP), chefe da Catedral do Avivamento, deputado e presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, acusado de racismo e homofobia.
A despeito da atenção recebida por estar no centro de uma onda de protestos há mais de um mês, Feliciano é considerado "peixe pequeno" na complexa política interna da entidade, comandada pelo aliado José Wellington, 78, da Assembleia em São Paulo, desde 1988.
Discreto, apoiado pela maior parte dos deputados ligados à denominação e cioso das antigas tradições da Assembleia de Deus, Wellington é tido como favorito para vencer a disputa.
Seu concorrente, pela terceira vez, é Manuel Câmara, 56, líder de Belém que se apresenta como um reformador da igreja --quer o uso maciço da TV e o fim da reeleição para o cargo de presidente da convenção. Quem for eleito vai chefiar a entidade pelos próximos quatro anos.
A disputa é acompanhada pelos 12,3 milhões de fiéis de diferentes ramos da Assembleia, que representam quase um terço de todos os evangélicos do Brasil. Desde 2000, esse rebanho cresceu 46%.
Ser eleito presidente da Convenção Geral não significa, no entanto, influência direta sobre os fiéis. Diferentemente de algumas neopentecostais, como a Universal do Reino de Deus, que não realizam eleições e são normalmente ligadas a um único líder, a Assembleia tem uma estrutura descentralizada.
O que está em jogo é a ascendência política e teológica sobre os pastores e o domínio da editora da Convenção, a Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD), dona de um rendimento desconhecido publicamente, mas que se sabe ser vultoso.
Esses fatores ajudam a explicar a disputa, que tem elementos de um pleito para cargo público: altos gastos com propaganda, acusações mútuas e uma agenda extenuante dos candidatos.
"É uma guerra", disse à Folha Câmara, que tem dormido três horas por noite nesta semana e começou a rodar o país há dois meses numa campanha que, segundo seu adversário, custou R$ 12 milhões --o que ele nega.
Para os candidatos à presidência da convenção, não se trata de dinheiro, mas da busca de um "ideal". "Esta é uma disputa geracional."
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